terça-feira, 4 de março de 2008

Mar – Caminho Adubado de Esperança (Contos)



Chegar e partir foram, desde sempre, o selo da formação do povo cabo-verdiano.
O homem cabo-verdiano que transporta uma cultura bem sedimentada, é frequentemente confrontado com culturas diferentes, sente que é diferente, mas não abre mão das suas marcas identitárias. Ainda assim tem conseguido o compromisso possível entre as duas realidades: a sua e a do outro.
A gestão desse binómio produz fenómenos de adaptação muito curiosos e dignos de estudo para a compreensão da nação global que hoje somos. Com o saber adquirido através dos muitos esquemas de sobrevivência que vai inventando, o homem crioulo, na Diáspora, é portador de uma criatividade espantosa, o nosso emigrante vai misturando as duas vivências, procurando o equilíbrio possível entre elas até criar um espaço de respeito, valorização e reconhecimento.
É dessa saga anónima que saem os contos desta colectânea que a autora dedica a todos os emigrantes cabo-verdianos espalhados pelas sete partidas.
Os contos em número de dez (10) perfazem um total de 150 páginas A4. Variam entre 6 a 18 páginas em que a autora ficciona a realidade da vida dos emigrantes tanto nos países de acolhimento como na sua terra natal, realçando os temas do amor à terra, alguma desagregação familiar, o desejo do regresso, a participação no desenvolvimento. Passam ainda a ideia de que aos poucos o cabo-verdiano vai-se habituando a realizar os seus sonhos na sua própria terra sem necessariamente ter que partir. Aprofunda todavia a ligação ao torrão natal para a grande maioria cuja vida tem raízes seguras nos países de acolhimento.
Resumindo, estas histórias fundamentam-se no pressuposto de que a Nação Cabo-verdiana transborda das ilhas e se existe nestas pedras algo eterno que conforta a alma cabo-verdiana, nos emociona e nos projecta como homens e mulheres, então no coração simbólico das Ilhas há lugar para todos.