Acho que já o disse antes, mas vou repetir: é de alma
lavada que regresso de Ribeirão Preto onde, num grupo de escritores da Academia
Cabo-verdiana de Letras, participei nos eventos culturais ali realizados, a 14ª
Feira do livro de Ribeirão Preto e particularmente a Oficina Cultural Cândido
Portinari, célebre político, poeta, professor e sobretudo pintor do povo
brasileiro (1903-1962). Decorre a Oficina num outro ex-libris da cidade, a
centenária Biblioteca Padre Euclides.
A preservação e dinamização do espaço corre por conta
da querida Fatu Antunes, uma cabo-verdiana de gema e “menininha de Soncente” pa
desaforo, que vive no Brasil há muito e agora empresta o seu talento a Ribeirão
Preto sem, todavia, esquecer as suas ilhas de “pedra e vento” no dizer poético
de Manuel Lopes. Foi assim que Fatu moveu céus, terra e cofres até levar a
Ribeirão a delegação de escritores de que fiz parte.
Os 5 escritores que Corsino Fortes comparou aos dedos
da mão pela cumplicidade e complementaridade das intervenções, levaram o
trabalho de casa afinado o que, juntando-se à generosidade dos nossos
anfitriões em Ribeirão e S. Carlos, permitiu um alto nível de desempenho
apreciado por todos.
Desde as “Prosas de Saberes” envolvendo a literatura
infanto-juvenil num criativo diálogo entre texto e imagem e o tema geral “Lendo
África” até “Combinando palavras com Vera Duarte” em show de Rap e de carinho
no secular teatro D. Pedro II, passando pela experiência de escrever a partir
de Cabo Verde, o percurso da literatura do Arquipélago em Power-Point e verbo
solto de Brito Semedo ou Dany Spínola, o magnífico dueto de poesia entre Corsa
de David e Alfredo Rosseti, sem esquecer o pano de fundo da Ponte de Afetos
entre Brasil e Cabo Verde estendido por Fátima Bettencourt. Tudo se encaixou
para erguer um edifício sólido que colocou o nosso país, moda badiu ta fla,
“Riba lá”.
E como se não bastasse vieram os maravilhosos momentos
de convívio com amigos antigos e recentes, qual deles o mais querido e
inesquecível. Momentos que não posso deixar de referir, paralelos ao programa
oficial, mas nem por isso menos gostosos, com Lauro Moreira, deliciosa surpresa
e delicioso convívio no seu belíssimo apartamento com a gentilíssima esposa,
bebericando uma água tónica com gelo e limão enquanto se visualizava um vídeo
de poesia em que o talentoso Lauro mistura sensibilidades poéticas e musicais
incluindo Jorge Barbosa e Ildo Lobo. Um raro privilégio!
Outro momento igualmente inesquecível foi o almoço em
casa da Semíramis, qual raínha lendária da antiguidade, semeando, em vez de
jardins suspensos, beleza e magia nos livros para crianças (dela e dos outros),
quisera eu vir a ser um desses outros! Ora essa beleza e magia não são
ferramentas de que Semi lança mão apenas no trabalho. É tão somente a natureza
dela. Foi assim que reuniu toda a família sob a asa protetora da Dona Leia para
homenagear da forma mais calorosa o grupo de escritores cabo-verdianos. Embandeirados
em arco colocaram uma bandeira de Cabo Verde ao lado duma brasileira com fundo
musical de Cesária Évora. Confesso que foi difícil conter a emoção até porque
outros momentos se sucediam já que aquela magia é marca da família. Haja
coração!
Todos sem exceção estão agora aqui no lado esquerdo do
meu peito: Dona Leia e suas ternas mãos no meu rosto dizendo: “Você é linda!
Tem uma aura tão bonita!”; The Queen como eu chamo à irmã pianista, ela sabe
porquê; Jonathan se equilibrando sobre uma cadeira ou muro à procura do melhor
ângulo, Canon em punho; todos os irmãos, cunhadas, da Semi, que família linda e que casa, digo
mais, que lar! Guardado por um gato de pedra, obra da Semi que diz que o
bichano não é dela, mas pulou o muro do jardim, instalou-se e nunca mais foi
embora. Como eu entendo esse gato! Eu própria achei aquele lugar muito próximo
do paraíso. O meu abraço deste lado do mar. Saravá queridos amigos!
Fátima
Bettencourt – 03 Junho 2014
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